Pró Jovem

Saiu na Imprensa: Pró Jovem em Timóteo foi uma FARSA segundo instrutor

Maisvip - 5/05/2011 - Por: Bruno Freire

Em entrevista exclusiva ao jornal Mais Notícias / Portal MaisVip, o instrutor do curso de Solda, Flaviano Pereira de Oliveira relata com detalhes o descaso da Administração Pública para com os Jovens e afirma que o Projeto foi SUCATEADO.

1. O Sr. Foi contratado por quem para dar este curso de solda para os alunos do Pró Jovem?

    Fui contratado pela Prefeitura Municipal de Timóteo

2. Para executar exatamente que função?

    A função de instrutor de solda, que inclui os processos de eletrodo revestido, tig, mag e massarico.

3. Como o Sr. Avalia o processo de aprendizagem como um todo, nesse período de pouco mais de três meses?

    Na verdade, o curso do pró jovem eram para serem 350 horas aulas, divididas em 100 horas aula a qualificação básica, mais 250 horas para qualificação profissional. Essas horas seriam mais do que suficientes para capacitar os alunos em todos os processos de solda: TIG, MIG, MAG e ELETRODO REVESTIDO. Só que infelizmente tivemos vários problemas de ordem administrativa, como por exemplo, a troca de Prefeitos. No começo do curso tínhamos dois mil jovens, motivados, entusiasmados e comprometidos com o Projeto. Quando houve a transição de governo, nós havíamos acabado a capacitação básica e a administração atual teve muita dificuldade de resgatar o Pró Jovem. Levou-se algo em torno de 30 dias para recomeçar as aulas. Houve muita evasão de alunos neste período, e quando a coordenação retomou o curso, essas horas que os alunos ficaram parados foram contabilizadas nas 250 horas que estavam reservadas para a capacitação técnica nas quatro modalidades de solda, trazendo um prejuízo incalculável para os alunos que tiveram apenas a capacitação em um processo que foi no eletrodo revestido.

4. Como você avalia os alunos do seu curso que se formaram ontem, dia 02 de maio?

    O Pró Jovem tinha tudo para ser um sucesso! Horas nós tínhamos, eram para ser 250 horas ao menos as que foram programadas. Tivemos uma reunião com a coordenação do curso assim que a nova administração assumiu, e decidimos que seriam 70 horas aula para ELETRODO REVESTIDO, 60 horas para TIG, 60 horas para MIG e mais 60 horas para MAG. Só que infelizmente pelo motivo que eu citei há pouco, sobre os problemas que houve na transição de governo somado a uma série de fatores, sobre a própria empresa que operou o projeto, a C&D, que nem tinha o contrato assinado quando começaram. Tiveram que regrar o curso, paralisar o curso. Isso tudo veio a SUCATEAR o Pró Jovem. Isso tudo nos leva a uma avaliação de MUITO RUIM. Eu, como soldador que atua na área desde 1988, digo que estes alunos sim, terão dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho. Eles não conseguem enfrentar um teste prático de solda MIG, TIG e MAG em uma empresa de pequeno porte. Terão muitas dificuldades em trabalhar no ramo de soldagem.

    Eu ouvi uma reclamação de alguns alunos, que 12 deles foram encaminhados ao RH de uma empresa de Timóteo para entrevista de emprego que incluía teste prático. Os 12 foram REPROVADOS. O argumento da empresa é de que nenhum deles tinha capacidade técnica para ocupar o cargo de soldador.

5. Fale um pouco sobre o mercado de Solda. Oportunidades e dificuldades.

    Interessante isso, quando surgiu o Pró Jovem eu fiz questão de ver o termo de referência. Quando o projeto veio pra cá, houve 2 mil vagas, fizeram um estudo sócio-econômico para a implantação avaliando como está o mercado de trabalho na região. Parece-me que tanto a solda quanto a construção civil como um todo são campos bastante aquecidos. Sabemos que Timóteo é uma cidade de predominância industrial e o forte de nossa região é a indústria e a solda está inserida neste contexto. O mundo está aquecido neste seguimento, fala-se dos 20 navios do Lula que serão construídos, e de outras tantas oportunidades. Me parece que há uma pesquisa muito positiva para o profissional de solda, desde que e esse profissional tenha a capacidade técnica exigida pelo mercado de trabalho.

6. Na sua opinião quantos por cento de seus alunos tem chance de se inserir e manter-se no mercado de trabalho?

    Olha, não no meu curso, mas em todos os cursos, porque nós instrutores eram muito parceiros e conversávamos muito entre nós e a grande preocupação era a de que todos os alunos estavam sendo prejudicados na conclusão do projeto.

    Nenhum aluno do meu curso, aprendeu todo o processo. Nenhum deles teve uma formação completa (TIG, MIG e MAG), que capacitaria para o mercado de trabalho. Não tem como avaliar porque os alunos não tiveram a formação completa. Ok. Outra coisa grave que eu acho a turma do período noturno foi mais prejudicada ainda. Eram muitos alunos. A empresa que foi contratada não deu conta de gerir o programa. Eu não dei aulas a noite, apenas de manhã e a tarde, mas as informações que eu tinha eram de que os alunos que teriam que ter quatro horas de aula por noite, estavam se dividindo em duas turmas e tendo duas horas cada turma ou menos. Uma turma vinha de 19 às 20:30 e a outra de após. Foi um verdadeiro CAOS. Os professores olhavam um para o outro e brincavam: “agente finge que ensina e eles fingem que aprende”. Era um “faz de conta”.

7. Há pouco mais de 30 dias, alguns alunos do Pró Jovem fizeram um manifesto na porta da secretaria de Educação de Timóteo, e reclamavam e muito do curso. O curso ainda estava em fase de finalização. Eles diziam até que tinham que levar eletrodos para sala de aula para poderem estudar. Isso é verdade? E esses alunos, de alguma forma foram prejudicados por fazerem tal manifesto?

    É verdade sim. Isso é outro ponto muito sério que eu queria ressaltar. Porque os alunos começaram a perceber esse processo de SUCATEAMENTO do Pró Jovem. Eles perceberam que não haveria tempo para concluir todos os processos do curso. Eles tentaram, e eu sou testemunha disso, por muitas vezes conversar com a coordenação do projeto. A coordenação, que são os famosos P3 da prefeitura, que tem ótimos salários, são pessoas que viraram as costas pro alunos. Eu me lembro que em uma das reuniões, uma aluna pediu algo bem simples, pediu a ementa do curso. E a Sônia, que é uma das coordenadoras do projeto, me disse assim: “aluno não tem que pedir ementa nenhuma. Não vou dar nada”. Então isso foi acirrando mais ainda a discussão. Eu acredito que se a coordenação fosse mais diplomática, aberta ao diálogo, não teríamos chegado a esse ponto. Essa manifestação só houve porque não houve a possibilidade de conversa por parte do governo. Não restou assim outra opção dos alunos a não ser se manifestarem de forma PACÍFICA e ORDEIRA. Mas conseqüentemente e infelizmente, todos os alunos que fizeram parte desta manifestação foram retalhados, eles entraram para a “lista negra” do Pró Jovem. Eu tenho informações de alguns coordenadores, e de pessoas da empresa C&D que administrou o curso, que cada professor teria direito a encaminhar os melhores alunos para testes em empresas da região. E quando eu encaminhei alguns alunos da minha turma que haviam participado do manifesto, foi me informado que os alunos que participaram do manifesto não iriam ser chamados para fazer um teste, pelo menos não pela coordenação do Pró Jovem e nem pela C&D. Esse governo atual retalhou esses alunos e os colocou numa “lista negra”. Isso é uma violência contra o cidadão. Isso é muito sério e não poderia acontecer.

8. Vocês tiveram algum apoio da sociedade, alguém que se manifestou a favor desse apelo dos alunos?

    Olha, o único que se manifestou favorável a causa dos alunos prejudicados, foi o Vereador Vespa. Ele prometeu nos ajudar e disse que ia pedir uma audiência pública para apurar as denúncias dos alunos. Mas até o momento essa audiência não foi solicitada segundo me consta. Alguns outros vereadores foram procurados mais nenhum deles sequer retornou. Inclusive tem um aluno, que foi um dos líderes do movimento, o Ramon, ele é quase vizinho do Douglas Wilk’s, Presidente da Câmara de Vereadores de Timóteo. Ele esteve com o Douglas por três vezes e infelizmente não obteve sucesso. Infelizmente, vamos ter que aguardar para ver o que acontece.

9. O que você teria a dizer aos seus alunos do Pró Jovem e a população como um todo.

    Eu só lamento muito o fato de as coisas terem chegado aonde chegou.

    Os alunos só queriam estudar, concluir por completo o seu curso. Infelizmente, por má gestão e da forma como as coisas aconteceram isso não foi possível e hoje, não acredito em perspectivas de esses alunos do Pró Jovem entrarem no mercado de trabalho apenas com o curso oferecido pelo Pró Jovem no currículo.

Procurado pela equipe do jornal Mais Notícias / Portal MaisVip o vereador José Vespasiano ( Vespa) Disse:

    “Algumas questões em relação ao programa ProJovem precisam ser esclarecidas, entendemos que existe a necessidade de intervir, pois não somente alunos e a comunidade tem nos procurado para denunciar, mas também instrutores. São denúncias envolvendo o funcionamento do programa quanto a qualidade dos cursos oferecidos, falta de material para aulas práticas, carga horária insuficiente, baixa qualidade nas aulas entre outras. Taís denúncias contra o programa precisam ser averiguadas com muito cuidado, pois desde sua implantação passou por diversas adequações e sua gestão foi substituída devido a instabilidade política do município, é importante ter tudo esclarecido para que não pairem dúvidas sobre elas.

    Nosso mandato vem requerendo informações para a apuração de possíveis irregularidades no âmbito do órgão, no dia 8 de Abril (8/04/2011) enviamos ofício solicitando reunião junto ao programa e seu respectivo coordenador, para esclarecimento das denúncias e o mesmo se colocou a disposição. A reunião acontecera na 2ª semana de maio, caso confirmadas as irregularidades, encaminharemos para que sejam tomadas as providencias cabíveis. Em um município com altas taxas de desemprego entre a juventude como o nosso, não podemos perder uma chance de qualificação técnica como esta por falta de sensibilidade das suas administrações, estamos atentos, em defesa do dinheiro público e da qualidade da educação dos jovens timotenses.”

JOSÉ VESPASIANO: "Em um município com altas taxas de desemprego entre a juventude como o nosso, não podemos perder uma chance de qualificação técnica como esta por falta de sensibilidade das suas administrações"(...)

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